E eu começo!

Já era hora de escrever sobre minhas emoções. Há quase 3 anos no exterior,  me sinto uma outra criatura. Mais exigente, mais sofisticada e ao mesmo tempo mais eu. Sozinha eu consegui ouvir o que meu corpo queria de verdade. E assim, vou vivendo minha vida, dividida entre a saudade da família e dos amigos, e as experiências vividas ao lado de um amor irlandês. A lembrança de cenas cotidianas dentro de casa, de todas as casas que vivi! A amizade com pessoas inesquecíveis e que não verei mais. A sensação de perda e ganho a cada minuto! Perder... Eu não gosto de perder e sofro por isso. Perder de ver meus pais envelhecendo. Perder as conversas depois do almoço quando a família está reunida em Uberlândia. Perder de compartilhar sonhos com pessoas tão próximas. Perder as risadas das minhas melhores amigas e os diálogos íntimos e assustadores. Perder o calor, o sol, o astral do brasileiro. Mas se eu só perdesse, não estaria aqui. Não deve ser apenas um equilibrio, é necessário sentir que se está ganhando para compensar todo o esforço! E eu ganho novidades, qualidade de vida, novos sonhos, novos caminhos, novos cursos e uma nova cultura! Eu ganho aprender inglês, espanhol, italiano. Novos contatos com pessoas que falam português. Eu ganho viagens, parques, museus, mercados... Eu tento cozinhar, e anoto as receitas que crio nel mio quaderno di Ricette. Colo meus desenhos na parede. Enfeito meu quarto com delicadezas irlandesas! Gosto de viver aqui. Gosto do sabor das diferentes estações, de analisar o humor das pessoas, do mistério que existe atrás de cada pub. A poesia reina por aqui. Os jovens são intensos e parecem voltar no tempo com roupas de antigamente, cores fortes e cabelos de vovó e vovô!  A primavera começou. O solzinho está presente com mais frequência e dizer que aqui chove sempre é um mito. Da minha imensa janela, eu acompanho as mudanças climáticas e festejo sempre. Tudo é tão maravilhoso! Duas senhorinhas velhinhas exibem casacos coloridos praticamente todos os dias. Meninas de saias até o joelho xadrez vão para a escola com camisas e pulovers, como princesas, crianças andam de patinete. Elas ainda brincam na rua. Aqui é lindo. Mas mesmo assim, é no Brasil que estão meus pensamentos. Estou morrendo de saudade.